Bernardo Santucci (1701-1764)

por Matheus Stein Casarin e Bruno Maroneze

01 de novembro de 2024, atualizado em 29 de junho de 2025

Folha de rosto do livro de Santucci - disponível na seção Córpus Folha de rosto do livro de Santucci

Segundo o Dicionário de Cientistas, Engenheiros e Médicos em Portugal, Bernardo Santucci, nascido por volta de 1701 em Cortona, no Grão-Ducado da Toscana, formou-se em Medicina pela Universidade de Bolonha e aprofundou o estudo de anatomia no Hospital de Santa Maria Nuova, em Florença. Seu desempenho o levou a ser nomeado médico da princesa Violante Beatriz da Baviera, e em 1730, com cartas de recomendação dela, partiu para Lisboa. Logo ao chegar, foi nomeado médico anatômico do rei D. João V e, dois anos depois, tornou-se professor de anatomia no Hospital Real de Todos os Santos.

Santucci publicou em 1739 A Anatomia do Corpo Humano, o único compêndio ilustrado de anatomia publicado em Portugal no século XVIII e, até onde descobrimos, a primeira obra sobre o tema publicada em língua portuguesa. Era destinado aos aprendizes do Hospital Real.

Logo após essa publicação, a prática de dissecação de cadáveres para o ensino da anatomia foi proibida por um decreto real, talvez por influência dos críticos de Santucci. Mesmo com a proibição, Santucci continuou a ensinar Anatomia por cerca de sete a oito anos antes de retornar à Itália em 1747. Em 1751, ele voltou a Portugal, onde foi recompensado pelo rei D. José com uma pensão de 30.000 réis e o título de cavaleiro da Ordem de São Tiago. Pouco depois, retornou definitivamente à Itália, onde faleceu em 1764.

Um estudo de Hermano Neves (“O livro de Bernardo Santucci e a ‘Anatomia Corporis Humani’ de Verheyen. Contribuição para o estudo da obra do anatómico cortonense.” Arquivo de anatomia e antropologia 10 (1926): 315–346) indicou que a maior parte das gravuras da obra de Santucci, produzidas pelo francês Michel le Bouteaux, eram adaptações da obra Corporis Humani Anatomia (1707) do anatomista flamengo Philip Verheyen. A prática de copiar imagens era comum no século XVIII para reduzir custos e lidar com a falta de cadáveres para dissecação, mas há indícios de que também o texto tenha sido “plagiado”. De qualquer forma, a importância pedagógica da obra em Portugal foi grande, tendo sido usada ainda por várias décadas após a sua publicação. Acrescentamos a isso também a importância linguística, visto que a partir dela foram difundidos inúmeros termos médicos que ainda não tinham equivalente na língua portuguesa.

Fontes

COSTA, Palmira Santos da. Santucci, Bernardo. In: Dicionário de Cientistas, Engenheiros e Médicos em Portugal. Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia, FCUL, 2025. Disponível em: https://dicionario.ciuhct.org/santucci-bernardo/. Acesso em: 09 Jun. 2025.

NEVES, Hermano. O livro de Bernardo Santucci, e a “Anatomia Corporis Humani” de Verheyen. Contribuição para o estudo da obra do anatómico cortonense. Arquivo de anatomia e antropologia, v 10, pp. 315–346, 1926. Disponível em: https://publikationen.ub.uni-frankfurt.de/opus4/frontdoor/deliver/index/docId/13946/file/E001880973.pdf. Acesso em: 09 Jun. 2025.

Como citar este texto:

CASARIN, Matheus Stein; MARONEZE, Bruno. Bernardo Santucci (1701-1764). In: MARONEZE, Bruno (org.). Dicionário Histórico de Termos da Biologia. 2024. Disponível em: http://www.dicbio.fflch.usp.br/documentacao/BiografiaSantucci/. Acesso em: 24 Dez 2025.